Fotos: Justin Leighton
O Gordon Murray de hoje é uma versão mais madura do
hippie que costumávamos ver nas fotos da F1 de antigamente: cabelo
longo, bigode, camisas mais feias que as minhas. Ele foi o projetista da
Brabham e McLaren e criou o supercarro F1, além da “McMerc” SLR e o LCC Rocket. Ele é um workaholic, um divulgador de carteirinha da Engenharia, com um toque, como sempre, de loucura.
Ele gosta de Bob Dylan, por exemplo, e corridas de
carrinhos de rolimã. Ele inexplicavelmente gosta de jukeboxes e parece
ter uma fobia profunda de baratas, que ele menciona várias vezes durante
nossas conversas.
E aqui, finalmente, estão os frutos deste
aparentemente desconcertante projeto de carro pequeno, o T25 a gasolina e
seu equivalente elétrico, o T27. Podemos ficar tranquilos. Eles são
divertidos, bem-humorados e um tanto engraçados, algo que deve ser
elogiado – pouco cerebral mas divertido, como Total Wipeout.
Eles são os primeiros frutos de um novo método de
produção que Gordon chamou de iStream, e que pode ser utilizado para
montar motocicletas, barcos, caminhões, trailers, vagões de trem, móveis
ou então, pelo que eu imagino, malas. Além de outras coisas.
Por hora, o iStream nos deu estes carros. “Desenhar
um carro que acomode três adultos é quase impossível”, diz Gordon, como
se quisesse dar desculpas de projetista de carros de corrida logo de
cara. Na verdade, eles parecem bem descolados, embora admito que sejam
um tanto esquisitos. Por outro lado, muita gente tem dito o mesmo sobre a
catedral de Gaudí por um século, e estamos começando a gostar dela. De
qualquer maneira, os “T-cars” são inteiramente esquisitos, como ficou
evidente. Cansado de jornais de fim-de-semana cheios de suplementos
irrelevantes? Esta pode ser uma boa maneira de livrar-se deles. A
explicação virá a seguir.
Eis alguns dados. Um “T-car” é cerca de 30
centímetros menor que um Smart ForTwo. É 60 centímetros mais estreito, a
versão a gasolina pesa cerca de 200 quilos a menos, comporta uma pessoa
a mais e tem um porta-malas maior. Ele também custará menos que um
Smart ForTwo.
Dá para estacionar um “T-car” perpendicularmente à
calçada e, portanto, dá para encaixar três numa vaga-padrão de uma
cidade britânica. Como cobra-se pelo espaço ao invés do carro que
estaciona-se hoje em dia, será preciso andar em comboio com outros dois
donos de “T-cars” para tirar vantagem disto, mas as coisas podem mudar.
“Estamos enfrentando uma crise de mobilidade”, diz Murray. “Disseram que isto iria acontecer”.
Os “T-cars” são uma espécie de ataque preventivo, uma
tentativa de honrar o verdadeiro carro pequeno e torná-lo aceitável,
antes que “decidam rejeitá-lo totalmente”.
Para entrar na mente de Gordon Murray, primeiro
aperte um botão do seu token de segurança. A frente inteira do carro
abre-se, lembrando o Romi-Isetta, o Bond Bug e outros projetos antigos de carros minúsculos.
Inclusive dá para dirigir por aí com a frente aberta –
mas tenho certeza que isto irá ser corrigido. Não há um bom motivo para
fazer isto, mas você irá, e pela mesma razão porque você colocaria um
abafador de chá na sua cabeça: porque você pode e porque ninguém mais
tem um.
E se você estiver num engarrafamento numa rodovia, você pode abrir a tampa, ficar de pé no assento e observar a bagunça à la Rommel.
Com a tampa fechada, é bem acolhedor. Você senta-se
no meio, que parece ser o lugar certo para se estar, com o bonito painel
e o volante de carrinho de bate-bate na sua frente. Bom para dirigir
fora da Inglaterra, e um fim ao enervante conflito entre as “mãos”
inglesa e francesa. Os flancos envolvem você, como se fosse um cockpit,
mas o interior parece espaçoso porque a área envidraçada é enorme.
Parece que você é um dos Jetsons.
Os outros dois passageiros sentam-se um de cada lado e
um pouco inclinados para trás, como em um F1. Parece algo anti-social,
mas funciona muito bem. Com o editor e o fotógrafo a bordo, dá para
conversar normalmente. Eles têm uma boa visão da estrada à frente; eu
não preciso olhar para seus rostos. Este layout é ideal para receber uma
massagem no pescoço de um dos passageiros, mas obviamente não quero de
nenhum destes dois.
Vejo um Smart vindo na direção oposta. Bah! Que tolo.
O seu carro é enorme, senhor. E ridículo. O motor a gasolina de 660 cm³
do T25 produz apenas 51 cavalos, ou 13 a menos que o meu preguiçoso
Fiat Panda. Isso não importa. Ele claramente não é rápido, pelo menos
não em termos numéricos, que virou a norma para apreciar performances.
Mas ele entrega sensações rápidas, porque ele é pequeno, e é leve.
“Pouco peso é o último ‘santo graal’ dos
projetistas”, disse Gordon, mais cedo. Isto está no cerne do pensamento
iStream, mas também perto do coração de Murray como um entusiasta de
corridas.
Um carro leve obviamente acelera melhor com a
potência de que dispõe, ou usa menos combustível, se você preferir
assim. Mas isso é um pouco mais complexo. Os efeitos do peso em excesso
aumentam com o movimento, porque a inércia – a relutância do carro para
mudar de velocidade e direção – acaba virando o principal problema.
Um carro mais leve não precisa de tanto esforço para
frear, então os discos e as pinças podem ser menores, e a massa suspensa
é reduzida. Como um carro leve pode fazer manobras com mais agilidade,
os pneus podem ser menores. Isso significa rodas menores e mais leves, e
ainda menos massa suspensa. Um carro leve, tendo menos inércia – e
contrário à crença popular – pode ser feito para resistir melhor às
batidas.
E por aí vai. Leveza produz leveza, assim como peso
produz mais peso, pelos motivos contrários apresentados acima. As
fabricantes de supercarros vivem falando de carrocerias de carbono e
alumínio, mas elas estão mesmo tentando introduzir a leveza num
pensamento fundamentalmente “pesado”.
Uma filosofia naturalmente lembra o parlamento
britânico; a outra lembra algo parecido com uma bexiga. Os “T-cars”
lembram bexigas de festa, e os benefícios da leveza influenciam até
mesmo a linha de produção. Lembre-se, o “T-car” pesa cerca de 200 quilos
a menos que um Smart. É o peso de uma moto corpulenta, e uma enorme
diferença proporcional entre dois carros bem pequenos.
Enfim, cá estamos, em uma espécie de carro esportivo
ultraleve, com três lugares e tração traseira. Este T25, um protótipo em
estágio avançado mas sem um acabamento, é um tanto barulhento, mas não
importa. Lá vem uma curva. A direção, enriquecida pelas características
imutáveis da redução de peso e pelo entusiasmo de Murray por carros
esportivos simples, é extremamente precisa – talvez um tanto arisca
demais para os desatentos.
Entramos na curva; as referências visuais sugerem que
o carro irá tombar feito um joão-bobo, mas meu acelerômetro interno
indica o contrário. É perfeito e até mesmo ágil, e ainda consigo fazer
um drift de leve em uma longa curva para a esquerda. Eu tenho que parar
de fazer este tipo de coisa, ou irei acabar totalmente com minha
reputação.
Pena que Murray tenha que contentar-se, por hora, com
a transmissão automatizada do Smart. Ela é notoriamente vagarosa. Ainda
assim, o “T-car” é, essencialmente, um carro com um chassi, ao invés de
um monocoque, então dá para instalar qualquer motor e câmbio pequenos.
Motores de motos logo vêm à mente, e acho que o T25 ficaria bem com o
“triple” de 675 cm³ da minha Triumph Daytona, que também tem um
“quickshifter”. Aí, ele seria ágil feito um guepardo depois de tomar dez
latas de energético e trocaria de marchas feito uma metralhadora
Gatling.
Mas talvez ele devesse ser elétrico. O T27 está quase
completado, e com um acabamento com tecidos com temas praianos e
plástico prateado. Os instrumentos eletrônicos são especialmente bons, e
não há nenhuma besteira futurista. Murray está desapontado com o som
intrusivo do powertrain, mas até que gosto. Ele reafirma minha ousadia
ao preferir a nova força propulsora que é a Eletricidade. Tem apenas um
botão giratório para acelerar ou dar ré, e uma promoção instantânea para
a ponte da Enterprise. Como deu para ver, ela aguenta, Scotty.
E o tempo todo você está sentado no meio do carro,
que passa uma sensação toda especial. Muita gente vai querer andar no
seu “T-car” por causa da disposição dos assentos, pelas mesmas razões
para eles quererem testar móveis infláveis. A única outra maneira de
curtir esta sensação seria comprar a McLaren F1, e elas não custam muito
barato hoje em dia.
O que realmente torna o “T-car” tão divertido de
dirigir, no entanto, é a sensação de quase ser uma scooter; é quase uma
licença para reinterpretar as nauseante convenções de como andar nas
ruas e estradas que sufocam os motoristas de veículos “normais”. Na
cidade, há lugares onde um “T-car” pode criar uma faixa extra para ele
mesmo. A tentaçao de fazer isso é poderosa; disparar pelo meio da via e
chegar na frente de uma fila de carros em um semáforo. Outros motoristas
podem até perdoá-lo por isto, porque o seu carro é engraçado.
Estes são carros minúsculos genuinamente engenhosos
que evitam – mesmo que por pouco – a armadilha de parecerem
politicamente corretos ou como uma desculpa para se ter um carro. Eles
são as emanações honestas de um engenheiro e de sua equipe
cuidadosamente selecionada de especialistas/lunáticos, e não a cínica
efluência masturbatória de auto-intitulados reformistas do transporte e
fashionistas.
Eles têm nomes com letras e números, como carros de
corrida ou caças a jato, ao invés de apelidos hipócritas como iQ, Smart,
Future ou Jesus. Eles são apenas carros muito pequenos, mas, de várias
maneiras, os mais radicais que já vimos. Quer um? Você pode ter um
agora, se quiser, mas tem um problema…
Você teria que comprar a fábrica inteira.
Fonte: topgearbr
Disponível no(a): http://topgearbr.wordpress.com/
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