21 de set. de 2012

Complexo de inferioridade não existe para este Fiat Uno


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Eu gostaria de ter um corpo malhado, daqueles que as garotas na praia olham e desejam. Um cabelo bonito, sedoso e esvoaçante como o daquele modelo de shampoo masculino.
Quem sabe uma barba dionisíaca, daquelas que os pêlos crescem alinhados ao invés deste arame farpado que insisto em cultivar. E quem sabe um nariz afilado, proporcional ao rosto, parecendo ter sido moldado por cirurgia plástica e que não lembrasse uma batata plantada sobre a minha boca, que aliás, não é nenhum objeto fetichista feminino. Não estou me degradando ou buscando consolo em palavras amigas, apenas sendo realista. Ao menos não me engano tentando me iludir diante de um espelho, mas sei que convenço com outros atributos. Se eu fosse um carro, talvez seria ESTE Fiat Uno.


Não trata-se de uma definição das mais objetivas, mas como todo ser humano sou mutável e o Uno também. Se falarmos mais especificamente do Fiat Uno Fire 2003/04 do meu grande amigo Felipe Noveli será mais fácil compreender o que estou tentando dizer. O carro foi comprado após alguns anos salgando carne podre com um Fiat Tipo. Eram mais problemas do que soluções, mas ainda assim foi o carro que apresentou Felipe ao meio automotivo, seu primeiro carro, seu primeiro filho. A troca estava decidida, mas o próximo carro ainda não. Precisava ser um carro barato, econômico, simples e honesto. Um pau para toda obra, daqueles que convencem pelo que são e não pelo que aparentam ser ou ter.
Unos são históricamente modelos rejeitados por boa parte dos compradores de carros básicos, apesar de serem baratos, ergonômicos (se você não gosta de Uno é porque possivelmente nunca dirigiu um em boas condições), de fácil manutenção e resistentes. Foi nessa hora que Felipe viu que com o valor pago em um Uno, conseguiria comprar o seu e deixá-lo mais recheado do que adquirindo qualquer um outro modelo popular. Entrou, acomodou seus 1,86 m no banco simples, deu a partida, acelerou e… o coração bateu mais forte.


Com a grana sobrando um pouco mais no bolso, Felipe conseguiu deixar a mente livre para pensar em alguns upgrades, mas só agora parece ter enveredado por um caminho sem volta: a personalização e preparação.

O carro já passou por diversos jogos de rodas e diferentes modificações estéticas (algumas até de gosto duvidoso), mas que atualmente estão combinadas entre sí. “Meus movimentos são friamente calculados” – diria o sábio Chapolin. O visual não remete à nenhuma “modinha” de personalização, mas mescla acessórios de funções específicas, com o intuito de melhorar a condução. As lentes dos faróis receberam película amarela para destacar as nuances das ruas durante a noite, uma vez que a coloração ajuda na visualização de objetos quando a penumbra predomina.


O jogo de rodas definitivo do projeto foi uma das grandes aquisições desde seu início e são as clássicas Speedlines fabricadas para a Alfa Romeo 155 Sport, objeto de desejo de 11 entre 10 “uneiros”. Elas foram calçadas com pneus Kumho Ecsta SPT de medidas 165/50-15″ para que não raspassem nos paralamas, um dos pontos mais críticos de se instalar rodas grandes (sim, aro 15″ em Uno é consideravelmente grande dada a caixa de rodas estreita) no Uno. As rodas foram tratadas a pão-de-ló, tento sua pintura antiga completamente removida para serem pintadas de preto brilhante. Os parafusos que ladeiam as bordas foram submetidos a um processo chamado de douração, contrastando com o conjunto, destacando detalhes e combinando com os faróis.



A suspensão recebeu molas de Uno Turbo (uma herança que eu guardava em casa, no desejo de montar outro Uno pra mim. Dei de presente para o amigo), junto a amortecedores com haste encurtada em 5 cm e 20% a mais de pressão para não tornar o uso desconfortável e não forçar a torção da carroceria. Os freios foram revisados e mostraram-se plenamente capazes de suportar a nova configuração (existem planos para upgrades), até porque o Uno emagreceu alguns quilos com a retirada de alguns componentes que foram considerados inúteis pelo proprietário, como o banco traseiro, por exemplo. Um melhor equilíbrio de peso foi conseguido com a remoção do estepe do cofre e remetido para o porta-malas, facilitando inclusive a manutenção no motor.

O estepe é preso no porta-malas por uma rede elástica que impede sua movimentação. Olhando atentamente é possível notar a nova padronagem de forração do teto e colunas internas em tecido xadrez. O console central recebeu adesivação na mesma padronagem, mas de cor diferente para não ficar tudo na mesmice. Um completo painel de Palio 1.6 16v foi instalado e ao seu lado o hallmeter diz ao proprietário a quantas anda a mistura. O volante é do Fiat Palio 2011 e os vidros laterais traseiros aos poucos vão recebendo adesivos vinculados à montagem do projeto e suas inspirações, num claro objetivo de remeter aos clássicos de competição dos anos 60 e 70 numa singela homenagem modernizada, fugindo do piegas sticker bomb que hoje assola as ruas em carros de proprietários que não conhecem o mínimo da história. A sonorização fica por conta de um player Sony Xplod GT507X que toca dois kits de duas vias MTX modelo THS602 instalados nas portas e traseira.



A brincadeira começou a ficar interessante quando há alguns meses atrás o amigo Maurício, precisou de peças para seu Uno Furgão e chamou Felipe para ajudar na busca em desmanches e ferro-velhos. Numa dessas buscas aparece uma Strada Trekking batida, pouco rodada e com o motor intocado. Com o motor do Uno beirando os 140 mil km rodados e na iminência de ser obrigado a submeter seu 1.0 a uma revisão pesada, encontrar o 1.4 Fire foi como se juntasse a fome com a vontade de comer. Após uma semana estudando, pensando e batalhando grana para adquirir o motor, com muito custo o 1.4 foi levado para casa no mesmo Furgão que provocou o encontro. Era hora de colocar a mão na cabeça e ter paciência para adquirir os outros acessórios e peças necessários para a correta instalação do motor.

Nas mãos do amigo Daniel, da ProRacer, o projeto ganhou vida. Saiu de cena o 1.0 Fire para a entrada do 1.4 Fire completo. Algumas peças básicas do 1.0 foram mantidas por diversos aspéctos. O módulo de injeção exigiu apenas a aquisição de novos bicos do modelo 1.4 e uma reinicialização. Os coletores de admissão e escape continuam os da versão original, pois são mais curtos e de mesmo diâmetro do 1.4, deixando o carro ligeiramente mais esperto.
Na admissão, um filtro de ar de duplo fluxo foi instalado, aposentando a caixa de filtro original. O escape agora conta com canos de duas polegadas e dois abafadores, sendo o final em inox de quatro polegadas para dar um charme a mais na traseira. Para facilitar o acerto, Felipe instalou uma polia regulável e um corpo de borboleta dos motores Fiasa 1.5 de 38 mm de diâmetro. O câmbio curto dos modelos 1.0 foi mantido, o que deixou o carro bastante ágil e arisco nas duas primeiras marchas, exigindo perícia no controle de embreagem para não destruir os pneus dianteiros em pouco tempo com as acelerações.

O carro agora é outro e as reações ao volante mudaram completamente o “humor” do pacato Fiat Uno. As curvas agora são encaradas com firmeza e por possuir suspensão independente, a estabilidade é assegurada. Não é um carro bruto, mas aquela docilidade de outrora já não existe mais. O carro cresceu mecanicamente e se mostra pronto a encarar motores de maior cilindrada em pé de igualdade, sem fazer feio.


É um carro que pode não ser unanimidade em beleza, mas agrada por outros fatores. Tem lá seus pontos negativos, mas compensa com diversos outros pontos positivos. Pode não ser tudo aquilo que se espera de um carro moderno, mas que ficou muito mais sedutor e esperto do que muito novinho por aí. A gente sabe que não agrada a todos, mas pelo menos incomoda muita gente.
Fonte: carplace
Disponível no(a): http://carplace.virgula.uol.com.br/
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