19 de jan. de 2012

or que a luz de “alerta do motor” precisa ser extinta?


É fácil achar que a luz de “alerta do motor” é estúpida porque, bem, ela é. Imagino que se você achasse que a causa da fumaça saindo pelo capô tinha algo a ver com os tapetes, então, claro, o alerta seria útil, mas fora isso, é inútil. Mas este não é o verdadeiro problema. O verdadeiro problema é que o alerta é uma ferramenta para propagar a ignorância dos consumidores sobre seus carros. E por isso precisa acabar. Agora.

Se parece que estou fazendo tempestade em copo d’água, é porque estou. O uso de um alerta genérico, que nada informa, sobre “alerta do motor” mantém os proprietários no escuro sobre a condição de seu veículo, e garante que permaneçam dependentes e subordinados as concessionárias e mecânicos. E o mais frustrante é que não precisava ser assim.
Vamos ver exatamente o que faz o “alerta de motor” em um carro, e como ele funciona. Para entendê-la, primeiro precisamos compreender o que é o OBD (on board diagnostics) – sei que muitos Jalops já sabem disso, mas não me abandonem.
Todo carro vendido atualmente tem um sistema embarcado de computador que monitora vários, vários sensores e condições do conjunto motriz do carro, e notifica quando há qualquer tipo de erro. Ele tem suas origens, acredite se quiser, no Volkswagen Type III 1969, um dos primeiros carros com injeção eletrônica de combustível. A parte “eletrônica” dela significava que havia um cérebro eletrônico primitivo que gerenciava o sistema e poderia verificar por condições de erro. Outros fabricantes logo adotaram seus próprios sistemas e em 1996, um sistema padronizado, chamado de OBD-II, foi desenvolvido e exigido por lei para inclusão em todos os carros vendidos nos EUA. O EOBD, um padrão europeu equivalente foi instituído cinco anos mais tarde.

O OBD-II é um sistema fantástico. Um padrão global para ajudar a diagnosticar problemas no carro com conectores e mensagens de erro padronizados? Quem poderia ser contra algo assim?
Do que não dá pra gostar é que, quando algo de errado acontece, tudo o que o motorista vê é um pequeno desenho de um motor. E o que isso indica para ele é praticamente nada. A luz de alerta é um indicador de mau funcionamento do sistema OBD-II, e ilumina sempre que uma falha é detectada. Para saber exatamente qual tipo de erro é preciso ter um aparelho especial que se liga ao conector OBD-II. Estes leitores/scanners são quase que exclusivamente encontrados por mecânicos e concessionárias. Na verdade, qualquer um pode comprar um deles, ou cabos que o ligam a laptops, celulares, etc, mas as pessoas que farão isso não são aquelas que precisam se preocupar sobre a luzinha no painel.
Minha mãe, por exemplo, nunca vai conseguir conectar seu notebook ao conector OBD-II em algum lugar sob o painel do seu Passat; já é difícil explicar para ela como ligar a impressora em seu Mac. Se o Passat simplesmente dissesse a ela qual código está disparando, ela pelo menos teria uma ideia da condição do carro.
Melhor ainda – do jeito como as coisas funcionam hoje, seu carro poderia fazer mais do que apenas exibir um código de erro para o motorista. Ele contém um sistema avançado para se autodiagnosticar, mas a informação que sai deste diagnóstico não está disponível para o seu proprietário; o usuário comum precisa pagar para a concessionária ou um mecânico que extraia o código e o traduza para uma linguagem de gente. Isto é um absurdo. Anos atrás, quando telas no painel eram raras, até dava para entender por que os carros não mostravam os códigos (apesar de achar que uma pequena impressora no painel seria legal).
Mas hoje painéis que são capazes de mostrar texto, ou no mínimo códigos numéricos, podem ser encontrados até mesmo em modelos populares. Praticamente todos os carros novos tem algum tipo de painel alfanumérico que poderia mostrar tanto o código OBD quanto uma curta descrição, mas nenhum fabricante faz isso. Já ouvi falar de alguns modelos que usam procedimentos semelhantes a um comando de videogame para exibir os códigos (acho que nos Neons era algo como ligar e desligar o carro rapidamente) mas ninguém faz isso por padrão. E deveriam.

Não existe uma boa razão para não ser assim. Ao não permitir que o proprietário saiba o que acontece no motor, o motorista comum, que talvez não esteja particularmente interessado em seu carro, está totalmente à mercê de um profissional pago para obter uma informação secreta de uma máquina que é sua. Isso coloca o dono em uma situação muito vulnerável se o mecânico ou a concessionária for desonesto. Eu acho – melhor, eu espero – que a maioria seja honesta, mas sem uma informação de fácil compreensão de ambos os lados, como um motorista pode saber? E por que não deveria saber?
Ou que tal isto: se o seu orçamento tá apertado, e você depende do carro para trabalhar, e a luz dispara no painel, você não saber se ela indica um conserto cabuloso ou só um probleminha de sensor. Você teria que chutar, talvez o ignorando ou esperando que não seja nada, ou levaria à oficina na esperança de que vá poder pagar o valor que o conserto exija, um reparo feito baseado em uma informação que você nunca viu. Tornar inacessível uma informação valiosa sobre a propriedade de uma pessoa apenas dá margem a julgamentos precipitados e a possibilidade de fraude.
Basicamente, a luz genérica de “alerta do motor” torna mais fácil a vida de mecânicos desonestos que tentam tirar vantagem de clientes desinformados. Considerando outros recursos instituídos em lei, acrescentar um que realmente ajude o motorista não faz sentido? Talvez seja o único recurso exigido pelo governo que faz sentido.

É por isso que precisamos de uma lei que acabe com o uso do alerta genérico em carros novos e adote em seu lugar, a exibição do código OBD-II no painel e uma descrição básica. O único motivo racional para que não tenha acontecido ainda vai de uma situação em que os fabricantes simplesmente queiram cortar o máximo de custos, a uma campanha proposital para forçar a ignorância e manter o fluxo de faturamento nas concessionárias. Nenhum destes motivos – ou qualquer coisa entre eles – é válido ou aceitável.
Nossos carros precisam nos dizer exatamente sobre o que estão pensando, mesmo que seja preciso berrar nos ouvidos do seu senador ou deputado para criar uma lei que obrigue os fabricantes a fazer isso.
Faça isso pela minha mãe – e pela sua.

Fonte:jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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