1 de fev. de 2011

A independência que faltava

Veículo desenvolvido em Campo Grande permite direção pelo cadeirante, sentado na própria cadeira, eliminando a ajuda de outras pessoas e possibilitando total mobilidade


Paula Carolina - Estado de Minas



 (Fotos: Maria Tereza Correia/EM/D.A PRESS)
 Diferentemente das diversas adaptações que podem ser feitas nos automóveis convencionais para que o portador de necessidade especial possa dirigir, o triciclo Biga foi desenvolvido para o segmento, mais precisamente para os cadeirantes. E sua grande vantagem, do ponto de vista do próprio usuário, é que o banco do motorista é a cadeira de rodas. O usuário entra e sai sem dificuldade, auxiliado por uma rampa. Então, é só dar a partida. “Nunca pensei em dirigir um automóvel adaptado pela dificuldade de se guardar a cadeira. Você precisa sempre da ajuda de alguém. Até existem mecanismos para suspender a cadeira e guardá-la, mas envolve muita engenharia e, mesmo assim, para a cadeira motorizada é mais difícil”, observa Margarida Lages, a primeira a receber um modelo Biga em Minas Gerais, entregue na semana passada. Com o triciclo, ela afirma que terá total mobilidade para se locomover, sem a necessidade de ajuda.

O emplacamento já foi providenciado e Margarida dará início ao processo de habilitação na categoria A (veículos de duas ou três rodas), já que se trata de um triciclo, no caso, com uma roda dianteira e duas traseiras.

PRODUÇÃO A ideia é simples e surgiu numa conversa de bar. “Eu e meu sócio sempre gostamos de moto e, um dia, numa mesa de bar, meu sócio fez o desenho. Então fizemos um protótipo e o veículo foi melhorando, até chegar ao que é hoje”, conta o advogado Paulo Tadeu de Barros Mainardi Nagato, referindo-se ao amigo Oraci Silva da Costa, professor de mecânica industrial do Senai, em Mato Grosso do Sul, por 35 anos. Os dois sócios, que não têm nenhum familiar com necessidade especial, trabalharam quatro anos no projeto, até conseguir, inclusive, a homologação pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), com o registro do veículo como triciclo Biga. Montaram uma fábrica, hoje com capacidade para produzir 10 bigas por mês. A inspiração veio das motocicletas e grande parte das peças é de Honda Biz ou Titan. O sistema de partida é elétrico e o motor, a gasolina.

ANDANDO Dirigir é simples. Em rápida demonstração, Margarida sobe a rampa de acesso integrada ao veículo. Tão logo a cadeira esteja corretamente posicionada, a rampa se eleva e trava a cadeira na biga. Em seguida, dois grandes parafusos são usados, ainda, para prender a cadeira à rampa. Equipamento que, no caso de Margarida, precisará ser adaptado: “Foi feito para uma cadeira manual, que já vem com a Biga. Como a minha é motorizada, a posição dos parafusos não coincide”. Mesmo assim, a cadeira fica firme, e Margarida arrisca um passeio pela garagem do prédio. “Nunca dirigi nem moto nem automóvel. Mas é muito simples”, garante. E acrescenta: “Também preciso de um capacete, que é obrigatório. Não estou usando agora porque é só uma demonstração”, brinca.

Semelhante ao sistema das motocicletas, a partida se dá pela chave na ignição, auxiliada por um botão. “O motor só é ligado se o câmbio estiver no ponto morto e a rampa, travada”, continua Margarida. O veículo tem três marchas, além da ré, e a alavanca fica à mão, no canto esquerdo do triciclo. Acelerador e freio também são manuais. Atrás do guidão esquerdo fica, ainda, outra trava, que funciona como freio de estacionamento. No painel, ao lado do velocímetro, Margarida sente a falta de um marcador de combustível: “Recomendam abastecer de dois em dois dias. E como o acesso ao tanque é fácil (o bocal de abastecimento fica próximo ao guidão, na parte central do triciclo), acredito que não será difícil verificar o nível, mas sinto falta de um indicador”.

ORIGEM No canto esquerdo do triciclo, um adesivo chama a atenção: retrata as antigas bigas usadas pelos guerreiros romanos em grandes batalhas. “Você deve estar se perguntando por que o nome biga. Na Roma antiga, só os grandes guerreiros tinham acesso e era pela traseira. Com a nossa Biga também é assim. A cavalaria ia à frente, em nossa Biga representada pelo motor, na suspensão dianteira. E os portadores de necessidades especiais são os grandes guerreiros da atualidade”, compara Paulo Nagato.
Rampa reclina para acesso da cadeira de rodas e, em seguida, é travada para evitar acidentes, mas não há fechamento na traseira
Rampa reclina para acesso da cadeira de rodas e, em seguida, é travada para evitar acidentes, mas não há fechamento na traseira


Desde a aprovação do projeto e início de fabricação já foram entregues nove Bigas em todo o Brasil. O veículo custa R$ 15 mil. Informações: paulonagata.ms@gmail.com.

FICHA TÉCNICA
Motor
– De um cilindro, 125cm³ de cilindrada, 8,8cv de potência, e torque de 0,87kgfm

Transmissão – Câmbio manual de três marchas à frente e uma a ré

Dimensões – Comprimento, 2,4m; largura, 1,33m; altura, 1,3m; distância entre-eixos: 1,7m

Altura mínima do solo –12cm

Capacidades: peso (sem
a cadeira de rodas), 188kg; de carga (cadeira e ocupante), 150kg; tanque, 4,5 litros (sem a reserva).

 
Fonte: vrum
Disponível em:http://correiobraziliense.vrum.com.br

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